ESSA É BOA

O vaidoso 

Por Ricardo Sobral(ricms@uol.com.br)

Vaidade é como nariz, maior ou menor, todo mundo tem o seu. Quando comedida, serve à auto-estima, forma a personalidade e ajuda a viver. O problema é quando se torna um fim em si mesmo, a razão existencial. Vira muleta em que o vaidoso se apóia para esconder suas fragilidades; de todas as origens, físicas ou psíco-sociais. Não raro, o vaidoso esconde por traz da vaidade sua disfunção erétil.

O vaidoso nada mais é do que um edifício construído por sobre alicerce de casa de taipa. Tem casca, mas é desmiolado. Tem verniz, mas não tem brilho verdadeiro. Tem, sobretudo, a necessidade compulsiva, imoderada e progressiva de chamar atenção e de ser alvo de elogios. Pinta sobre si uma tela exageradamente positiva. É um infeliz, não sabe compartilhar.

É presunçoso, arrogante, complicado, fútil, garboso, pedante, presumido, pretensioso, soberbo, jactancioso e ufano.

O elogio é o seu principal alimento, do corpo e da alma.

Para o vaidoso, o resto da humanidade só serve para lhe aplaudir.

Como ele precisa cada vez mais de mais elogios para alimentar seu ego inflado, inventa, mente, falseia, amplia, reduz, omite, perde o senso de autocrítica, cai no ridículo, diz ser amigo de pessoas que nunca viu nem em sonho, garante que seus pertences foram de pessoa famosa ou poderosa. O que importa é que esteja sempre em evidência, invariavelmente sendo elogiado.

Ninguém consegue contar um caso na frente de um vaidoso que não ouça outro ainda mais espetacular e extraordinário, acontecido com ele.

O vaidoso sequer consegue reconhecer o valor de um antepassado diante do temor de perder a condição de especial, genial e único na família.

Na mulher, a vaidade é aceita como atributo natural, faz parte de sua natureza peculiar. Picanhosa, ela gosta de ser notada, desejada, invejada. A maior ofensa que se pode fazer a uma mulher é ela se arrumar todinha, ir ao shopping, a uma festa ou qualquer outro local que tenha gente e não ser notada, olhada com aqueles olhos “canibalescos”, que a maioria dos homens não sabe conter.

A mulher, mesmo quando bem satisfeita, dissimula, faz que não percebeu, não acusa, não passa recibo, mas, no íntimo, se sente realizada, feliz, gratificada, leve e fagueira quando é notada, admirada, invejada, alvo das atenções.

No homem, a vaidade degenera. O vaidoso faz alarde, ostentação e vanglória de si, sem o menor simancol. Seu maior castigo é não ter seu desempenho elogiado pelas mulheres. Como eles só vêm seu próprio umbigo, deixam elas a ver navios, nunca as conduzem ao paraíso. Mulher de vaidoso nunca revira os olhos feito letra de bomba de combustível. Pago um sorvete de sapoti na sorveteria tropical a quem disser que ouviu uma mulher elogiar um vaidoso patológico.

Tudo no ou do vaidoso é melhor do que nos ou dos outros. Seu cachorro ou gato de estimação? Ah! Minha filha, é muito mais inteligente do que o visinho. Entendeu bem? Não é só mais inteligente do que o animal de estimação do visinho, não. Ora, ora, é mais inteligente do que o próprio visinho. Uma gracinha.

Tenho notícia de um notório vaidoso, um homem de talento e muito sabido, que foi engolido pela própria vaidade. Dizem que ele é tão vaidoso, que, quando vai a um enterro, fica puto da vida com o defunto, por ser ele, o defunto, o centro das atenções, e não ele, o vaidoso.

Os santos, os sábios e as pessoas comuns de boa índole são simples e humildes de coração. Não sei da existência de nenhuma deles que tenha sido vaidoso.