segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O pior cego é aquele que não quer ver

Divulgação
Ney Lopes
Repete-se com freqüência, que o pior cego é o que não quer ver. Completo o refrão, dizendo que o pior cego é quem só enxerga os seus próprios interesses, regra geral inconfessáveis.

Desconfio que, no caso específico da implantação do aeroporto de São Gonçalo do Amarante existam “esquemas” políticos e empresariais de grupos, impedindo que se veja a única alternativa para viabilizá-lo economicamente, que será a implantação ao lado de área de uma livre comércio (ou zona econômica especial), tendo como ponto de partida as ZPES de Macaíba e Assú, que em nada seriam prejudicadas.

Ao contrário, seriam altamente beneficiadas, com a ampliação dos seus raios de ação.

Tais interesses se agrupam em tradicionais “esquemas”, armados nos porões dos governos, a base do tráfico de influência.

Na maioria das vezes, os governantes de boa fé são iludidos, por falta de conhecimento da realidade.


Fala-se que os “esquemas” ainda interessados no nosso aeroporto não obtiveram sucesso na concorrência para a concessão do aeroporto e agora buscam o domínio aduaneiro da ZPE (já existiria até o nome do diretor), que por estar situada num único município se tornaria mais fácil, do que na hipótese de área livre, composta de vários municípios, como é o modelo moderno do mundo.


Um dia essa história será contada “tin, tin por tin, tin”. Isso eu prometo, salvo se em tempo os “esquemas” forem desmontados para garantir ao RN cerca de 50 mil empregos diretos, indiretos e oportunidades de negócio.


Tenho a informação segura, de que a Presidente Dilma e a Ministra do Planejamento enxergaram o que o RN não quer enxergar até hoje, embora este colunista – como deputado federal e agora como jornalista – venha sugerindo essa solução há mais de quinze anos.


A presidente e a ministra, após a solenidade de homologação da concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, dirigiram-se à governadora Rosalba Ciarlini e perguntaram por que o “pólo exportador” não era em São Gonçalo do Amarante agregado a outros municípios do RN com potencial de produzirem para exportar.


Aliás, com essa observação, a presidente repetiu o que já havia dito em fevereiro de 2008, quando era ministra de Lula, ao afirmar que o RN é “estratégico” para o país.


Pela preocupação manifestada pela presidente e a sua ministra, o Palácio do Planalto se mostra sensível a fazer no RN, o que fez recentemente em Roraima.


Sabe-se que ZPE e área de livre comércio, embora parecidas, não são a mesma coisa.

Por essa razão, Roraima em 2008 transformou as ZPEs dos municípios de Boa Vista e Bonfim, em uma única área de livre comércio.

Roraima argumentou que era fronteira terrestre e exigiu do governo uma área de livre comércio.


Se ZPE fosse a mesma coisa, Roraima não teria agido assim.


O RN silenciou, mesmo estando o “grande natal” e o “vale do Açu” próximos da maior fronteira marítima e aérea da América Latina, porta de entrada da África e da Europa, com mais méritos do que Roraima, em termos de implantação de um pólo turístico e exportador intercontinental.

Desde 1530, a nossa condição geográfica privilegiada foi reconhecida pelo rei de Portugal, ao criar a capitania hereditária do Rio Grande do Norte, doada a João de Barros para conter as invasões francesas.

Não se nega ter sido o contrato de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante o primeiro passo. Porém, apenas, um primeiro passo. Falta muito a fazer, ainda.

O principal é enxergar o que a presidente Dilma e a Ministra do Planejamento já disseram a governadora Rosalba Ciarlini.

Ambas estão conscientes de que os pagamentos das taxas dos passageiros que chegarão e sairão do aeroporto, somado ao aluguel comercial de espaços e armazéns de estocagem de produtos não viabilizarão financeiramente o empreendimento.


A presidente Dilma na sua última visita ao estado falou na necessidade de fábricas ao redor do aeroporto.


Quer queiram, quer não queiram os “esquemas de lobbies” em ação, isso somente será possível com a transformação das ZPES de Macaíba e Açu numa área de livre comércio, da mesma forma que ocorreu em Roraima.


Caso a estratégia de aproveitamento econômico do aeroporto de São Gonçalo do Amarante não seja revisada imediatamente, o RN continuará sendo o eterno “estado do já teve”.

Basta lembrar o “sonho de uma noite de verão”, da sonhada refinaria de petróleo e a ferrovia transnordestina.

O pior cego é realmente aquele que não quer ver!


Ou quando ver, enxerga apenas o seu próprio bolso e os interesses subalternos que se opõem ao interesse público.




Ney Lopes – jornalista, advogado e ex-deputado federal

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