terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Do Blog de João André...


RETRATO FALADO

O abandono de Ceará-Mirim


O advogado José Maria Gels, que representa a intervenção judicial da Usina São Francisco (atual Ecoenergia), bem que tentou convencer esta repórter de que a crise no setor açucareiro é geral. "Oito usinas de Pernambuco não moeram cana nesta safra", disse sexta-feira (7) por telefone a mim, enquanto apurava a matéria que o NOVO JORNAL publicou hoje sobre a economia de Ceará-Mirim, à beira da falência.

Acompanho o caso como repórter há mais de dois anos, desde que foi decretada a intervenção por conta do impasse existente entre o ex-dono, o ex-senador Geraldo Melo, e o atual, Manoel Dias Branco Neto. Não querendo entrar nos detalhes dessa briga, prefiro comentar somente o declínio que a usina vem sofrendo desde então.

Luz cortada, salários atrasados, inadimplência com fornecedores ao longo dos últimos dois anos, e, agora, uma paralisação que tem todos os sinais de ser definitiva, culminaram com a quebra da economia de Ceará-Mirim, historicamente dependente da moenda de cana-de-açúcar da usina. Em tempos áureos, mais de duas mil pessoas chegaram a trabalhar na plantação em época de safra.

Este ano, com a seca mais rigorosa dos últimos 40 anos, a cana não cresceu conforme o esperado e a empresa não dispunha de recursos para investir no apontamento do parque industrial e moer a cana. Vendeu tudo para a Vale Verde, de Baía Formosa. Os salários dos funcionários estão atrasados há seis meses e o cenário é de total abandono. Nem o telefone fixo, para o qual a reportagem ligou incansavelmente, pode ser atendido porque não há secretária trabalhando.

Não há como negar que a seca prejudicou o país inteiro. Mas o interventor Valdécio Vasconcelos também não nega não possuir o mínimo de intimidade com o negócio da cana. "Fui colocado aqui por ser alguém de confiança. Mas não entendo de cana-de-açúcar", admitiu ao blog. Os trabalhadores, representados pelo sindicato, acreditam que a intervenção é a responsável pelo fracasso do negócio.

Enquanto o ex e o atual dono brigam na Justiça pelo pagamento das dívidas da usina, Ceará-Mirim morre à míngua. A inadimplência do IPTU chegou a 90%, o faturamento do comércio caiu pela metade e, quem não se aventurou a tentar emprego nas obras do "Minha Casa, Minha Vida", está passando fome. Uma situação pela qual o poder público pode fazer muito pouco.

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